Cinquenta
tons... de polêmica
Acabei de
terminar de ler a trologia Cinquenta Tons. Estive intrigada com o
livro há algum tempo, depois que estourou e metade das mulheres que
eu conhecia me recomendavam a leitura e a outra metade estava
ultrajada. Achei que valia à apena. Além disso, precisava me
distrair.
Como
distração, está aprovadíssimo! É divertido, tem um bom ritmo,
especialmente os dois primeiros livros; o terceiro já é menos
empolgante. E a história? Não há muita, na verdade. Não no que se
refere a continuismo, tanto é que os três livros se passam em menos
de 1 ano. E tudo acontece muito rápido. Pra falar a verdade, a
autora nem escreve muito bem e a história não foge muito dos
clichês romanticos, com a exceção do que vem excitando e
ultrajando a população feminina: o sadomasoquismo.
Para os
desinformados na área da literatura, a trilogia trata da história
de Anastacia Steele, uma menina de 21 anos que acaba de se formar e
conhece o magnata Christian Grey, de 26 anos, que tem preferências
sexuais atípicas. A pobre coitada, virgem, se envolve com ele
esperando nada menos que romance e ele só está interessado – a
princípio – em espancá-la em seus josgos sexuais. Com o tempo,
claro – e não muito tempo, devo dizer -, eles se apaixonam, mas os
diferentes hábitos de Christian tornam a relação confusa e
difícil.
No
primeiro livro, tudo que vemos é uma mary sue
virgem, ingênua e linda, em quem todos os homens estão
interessados. O livro trata do conflito dela em descobrir este mundo
sexual completamente diferente dos romances de Jane Eyre a que está
acostumada. Ao mesmo tempo, ela está fascinada por este homem por
quem vai se apaixonando aos poucos, mas que pensa ser patológico. O
segundo livro é sobre desvendar as profundezas de Christian, ainda
sob o ponto de vista de Anastacia. Neste livro, eles já estão
cientes do que sentem um pelo outro e descobrindo e superando os
traumas de Christian, que o levaram a uma vida solitária, evitativa
de relacionamentos afetivos nos quais ele não achava ser capaz de se
envolver. Por fim, o terceiro livro trata-se de estabilizar a nova
vida dos dois, com os desafios que uma relação afetiva saudável
necessita para sobreviver.
E
sim, eu gosto de usar o termo saudável porque,
ao contrário do que tenho lido por aí, não acho que exista algo de
patológico em qualqer atividade sexual consensual, entre dois
adultos que desejam ser mais “criativos”. Tenho lido algumas
críticas feministas a posição de submissão em que Christian
coloca Ana, principalmente porque, segundo tais críticas, trata-se
de machismo. O que me chama a atenção é que a mesma revista que
trata isso como machismo tem uma sessão inteira para falar de
beleza: rimel, pele sedosa e unhas bem cuidadas (claro,
apenas para você agradar a si mesma, imagina que absurdo querer
ficar bonita para seu namorado machista, é claro que ninguém lá
pensa nisso!).
Já
li, também, os mesmos discursos feministas da década de 60, dizendo
que a mulher não pode subter-se ao homem em nenhum contexto, que a
mulher nunca será valorizada em uma posição de submissão e que a
publicação deste livro, em que Ana é colocada em uma posição de
submissa sexual vai contra todas as tentativas de valorização da
mulher. O vilão Christian atacando a pobre vítima Anastacia. O
livro deveria ser proibido, já
li em algum lugar.
Ora,
as mesmas pessoas que gritam por liberdade resolveram queimar livros
depois do sutiã? E, por favor, esta postura de vitimização está
ficando ultrapassada. Não me entendam mal, não me considero
machista, mas tampouco sou feminista. Sou apenas uma pessoa vivendo
em uma sociedade e utilizando meus melhores recursos pessoais para
obter o que alguns chamam de felicidade. Com isso não estou dizendo
que a mulher ainda não é oprimida socialmente ou que os salários
femininos são compatíveis com os masculinos, por que não é bem
assim. Mas sair por aí queimando livros porque eles colocam uma
personagem voluntariamente interessada em dar prazer ao outro –
que, por acaso, é homem – é um pouco de exageiro.
E
mais! É a primeira vez em algum tempo que leio um livro em que os
personagens são imperfeitos! Ela toda ingênua e confusa com relação
a si mesma de forma quase irrealista e ele, como mesmo se define,
danificado em cinquenta tons.
O que consegui extrair desta relação não foi a superficial
submissão que ultrajaram muitas mulheres, ou a empolgação sexual
que libertou tantas outras, mas sim o apoio mútuo no sentido de
darem-se prazer e ajudarem-se no que eram capazes. Eles evoluiram,
superaram traumas profundos, feridas expostas, juntos.
Desde quando doação incondicional virou sinônimo de patologia e
perversidade? Pra mim significa assistência e amor. Machistas ou
feministas, não é isso que todos queremos?