quinta-feira, 2 de julho de 2015

Porque a Sandra Bullock e seu sapato amarelo de Minions são mais legais que a Camara de Deputados e a PEC


Hoje abri as paginas da internet que uso pra me atualizar da vida e me deparei com uma serie de coisas:

1. A PEC sobre redução da maioridade penal que havia sido rejeitada hoje foi aprovada após um dito “golpe”. Tem inclusive uma foto do Feliciano reivindicando com uma camiseta sobre a PEC.
2. Hoje faz 499 anos que Nostradamus morreu e aparentemente o History Channel vai exibir um documentário sobre isso.
3. A Dilma anda sendo atacada com adesivos misóginos.
4. A Sandra Bullock usou um sapato amarelo dos Mignons “por uma boa causa”.

Achei que valia uma reflexão sobre a relação entre esses eventos todos – e sim, eu acho que existe uma!
Já há algum tempo venho acompanhando o drama da PEC que resolve sobre a redução da maioridade penal no Brasil. O assunto não me interessa apenas como cidadã, mas faz parte da minha vida como psicóloga e docente.
Quem me conhece sabe que eu não acredito que punição resolva o problema de ninguém, muito menos no que se refere a adolescentes que mal tem desenvolvimento neuroquímico para entender boa parte do que fazem a longo prazo. E embora eu não seja a maior entendedora de economia, não acho de nenhuma forma vantajoso para o país aprovar a tal da PEC, considerando que nossos presídios já operam com muito menos do que o necessário para garantir os direitos humanos dos usuários – e sim, gente, por mais graves que tenha sido os crimes cometidos por esses indivíduos, eles ainda são seres humanos. Teve um cara uma vez que falava sobre atirar a primeira pedra. Eu não sou a maior fã dele, mas isso sempre fez sentido pra mim.
Estava lendo sobre algumas previsões do Nostradamus e uma especificamente se acredita falar do surgimento do Dalai Lama. “Do oriente ensinando coisas boas ao ocidente...”. Quem dera a gente aprendesse alguma coisa!

Então, só para esclarecer algumas coisas, aí vão alguns dados que muita gente não sabe.
1. O cérebro do adolescente ainda está em formação e há regiões não maduras ainda para tomar decisões adequadas. Isso não significa que eles não sabem a diferença entre certo e errado, significa apenas que eles ainda não se deram conta das implicações dessa escolha.
2. Certo e errado é uma maneira dicotômica de avaliar situações que tem muito mais do que apenas esses dois lados. Só porque alguém sabe a diferença, não quer dizer que não tenha uma serie de problemas/transtornos que dificultam aceitar que essa diferença é importante e deveria ser respeitada. Ou seja, mesmo que alguém tenha feito algo errado sabendo que era errado, pode ser que essa pessoa tenha uma doença que a impeça de entender que o errado é relevante.
3. É um grande erro achar que todo mundo teve as mesmas condições que você teve, aos 16 anos, para saber a diferença entre certo e errado e efetivamente escolher o certo. A maioria das pessoas que cometem crimes tiveram vidas bem diferentes que a sua, de forma que você não pode fazer essa comparação.
4. A maior parte dos teóricos e cientistas da área sugerem que a punição somente é eficaz a curto prazo, e que não tem o poder real de educar ou mudar comportamentos a longo prazo. A maioria das pessoas que pune quer vingança. A lei de Talião foi extinta por um bom motivo!
5. Se presídio fosse bom, não haveria população carcerária no mundo, pois não haveriam reincidentes.
6. Não faz qualquer sentido esperar que alguém se eduque através de sofrimento. Aliás, esse sempre foi meu problema com o cara que falou sobre atirar a primeira pedra. Ele também falava de pecado e culpa...

Considerando esses fatos, acho complicado ser a favor de uma medida que não apresenta qualquer benefício. Mas isso, na verdade, não importa, porque além de mim e talvez outras pessoas que se interessem e se posicionam frente ao tema, o resto dos nossos colegas cidadãos está preocupada em comprar adesivos que ofendem o gênero da presidente, como se isso fosse de qualquer forma relevante para a administração pública.

Não me entendam mal, eu sou a pessoa que fez propaganda política aberta ao Aécio na eleição passada. Eu adoraria que a Dilma deixasse de ser presidente. Mas essa posição não tem absolutamente nada a ver com o fato de que ela é mulher. É um absurdo atacar a imagem dela, como é um absurdo atacar a imagem de qualquer outra pessoa. Eu desaprovo a forma de governo dela, um direito meu. Mas não é direito de ninguém desrespeitar ela por uma questão de gênero.

Aliás, boa parte do problema da política hoje é isso. Nós votamos em uma imagem, em uma atuação/encenação, ao invés de no desempenho. Há pouco alguém tentou me lembrar que os políticos deveriam ser os representantes das nossas ideias no congresso, mas a verdade é que isso não ocorre. Os políticos tratam nossos projetos de leis como figurinhas, que são trocadas por conveniência. Boa parte deles nem mesmo sabe o que significam as leis que aprovam ou rejeitam, é só poder e dinheiro que está em questão ali. Meu irmão mais novo tinha um grupo de amigos na escola que se reunia no recreio para trocar Tazos – lembram aquelas figurinhas que vinham nos salgadinhos? É assim que eu imagino os políticos e os projetos de lei – com a diferença de que meu irmão, uma criança ainda sem muita noção de certo/errado, já era capaz de ponderar sobre o poder do seu Tazo e se era o melhor para todos que ele trocasse a figurinha. Já nossos políticos...

E pra quem acha que o Feliciano (ou qualquer outro desses atores fervorosos fantasiados de pseudo-políticos) teria qualquer intensão de pensar sobre isso, uma vez que estava lá literalmente “vestindo a camiseta”, pense de novo. Garanto que a Sandra Bullock e seu sapato amarelo de Minions pensou mais sobre a causa que estava defendendo do que toda nossa câmara de deputados.