sábado, 8 de setembro de 2012


30 dias de vida

Às vezes me pergunto o que aconteceria comigo se eu descobrisse quando vou morrer. Eu sei, soa meio mórbido, mas pensem sobre isso. Todos sabemos que vamos morrer um dia, mas a vida é esperta o suficiente para não informar a data. É confortável, não é? Permite a ilusão de que vamos durar para sempre, que podemos fazer planos a longo prazo e que esses planos justificam fazermos coisas que não gostamos de fazer. É bom pensar que tudo vai valer a pena, que estamos plantando algo para colhermos no futuro. Às vezes me pergunto se haveria plantação se não houvesse futuro.

E eu fico pensando em números. Quando penso sobre isso, sempre imagino algo como 30 dias de vida restantes. Sei, parece dramático, mas pensem nisso por um instante: é tempo suficiente para buscar algumas coisas que sempre se quis, mas pouco tempo para se preocupar com as contas a pagar no mês seguinte. Assim, ninguém tem a desculpa de que “não tem dinheiro”. Essa é a desculpa mais aceita no mundo: “não tenho dinheiro”. Boa parte das pessoas entende que isso não é tão simples de resolver e encerra, por aí, qualquer que for o assunto.

Mas e se dinheiro não fosse o problema? Se pudéssemos estourar o limite do cartão pelo simples fato de que não estaríamos vivos para nos complicar com a conta? Eu sei, além de mórbida e dramática, estou sendo egoísta, mas vamos lá, eu só teria mais 30 dias de vida... Isso seria outra coisa boa. As pessoas compreenderiam, apoiariam e estariam presentes para qualquer de suas esquisitices, afinal, você está morrendo! Além disso, se as pessoas soubessem que você só teria 30 dias, não seria muito complicado para elas adiar alguns afazeres. Seria por pouco tempo, só 4 semanas até você morrer e elas voltarem para suas vidas imortais. 

Eu sei, mórbida, dramática, egoísta e sarcástica. Mas só por um momento, tolerem.

Todas aquelas coisas desagradáveis que fazemos para colher no futuro perderiam o sentido: não haveria futuro. Essas coisas, deixaríamos de lado.
A maior parte das pessoas provavelmente diriam que ficariam mais tempo com a família e amigos. Mas o prazo de 30 dias também é bom por isso. Imagino que boa parte de nós enjoaria de passar todo seu tempo com família e amigos, mesmo que fossem só mais 30 dias. E não seria como passar as férias com eles. É claro que não ficamos entendiados com família e amigos nas férias, mas isso é só porque ocupamos boa parte das férias para descansar. No meu cenário, descansar ficaria, literalmente, para depois.

Por fim, eu me pergunto se haveria algo que não estamos fazendo e que começaríamos a fazer no minuto seguinte à previsão de nosso óbito. Essa sim é uma grande incógnita.
Eu sei, cada um tem uma resposta diferente para meus questionamentos. Mas minha principal inquietação não está tão relacionada com a resposta em si, mas sim, em porque não priorizamos esta resposta ao invés de qualquer outra coisa.