domingo, 21 de março de 2010

Coisas de mulherzinha...

Eu não sou muito dada a rimas, tampouco acho original jogar textos prontos no blog. Mas dessa vez, vou abrir uma exceção.


Poema de Mulher

Que mulher nunca teve:
Um sutiã meio furado.
Um primo meio tarado.
Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca tomou:
Um fora de querer sumir.
Um porre de cair.
Ou um lexotan para dormir?

Que mulher nunca sonhou:
Com a sogra morta, estendida.
Em ser muito feliz na vida.
Ou com uma lipo na barriga?

Que mulher nunca pensou:
Em dar fim numa panela.
Jogar os filhos pela janela.
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou:
Para ter a perna depilada.
Para aturar uma empregada.
Ou para trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu:
Uma caixa de Bis, por ansiedade.
Uma alface, no almoço, por vaidade.
Ou, um canalha por saudade?

Que mulher nunca apertou:
O pé no sapato para caber.
A barriga para emagrecer.
Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou:
Que não estava ao telefone.
Que não pensa em silicone.
Ou que “dele” não lembra nem o nome?

sábado, 13 de março de 2010

Pocahontas no futuro (ou Avatar)

Voltei do cinema agora a pouco, após ter sido vencida por um excelente argumento para assistir Avatar. Eu andava me recusando desde que começaram a divulgar o filme, mas então, uma amiga minha que faz cinema resolveu me dizer que, em um futuro não muito distante, as pessoas vão dizer que Avatar revolucionou o cinema 3D, que foi um marco e blábláblá. Eu quero poder dizer "sim, eu estava lá, participei deste momento histórico, assisti o filme... e era uma porcaria".

Não posso falar muito dos efeitos ou da animação a não ser que pareciam bons. Não sou especialista e, quando se trata de 3D, minha unica e tosca observação é que é muito divertido ver as coisas saindo da tela. Fim.

Mas eu sou boa para falar de histórias. Das boas e também das do James Cameron. E também gosto de largar comentários como os de que foi bem feito que ele perdeu pra ex-mulher.

Mas falando da história. Eu preciso começar dizendo que se o filme não fosse a porcaria de um marco, eu não tinha ficado até o final. Como disse uma outra amiga minha, você passa todo tempo com a sensação de que "hum, acho que eu já vi isso em algum lugar...". É um clichê americano de quinta. Uma cópia descarada de um monte de outras coisas que nem eram tão boas assim pra serem copiadas.

Mas vamos aos fatos: o filme começa com um cara (Jake Sully) na cadeira de rodas (claro) que é chamado pra substituir o irmão gêmeo-atleticamente aceitável-morto em uma missão a terra de Pandora atrás de uma pedrinha muito valiosa - ou de grande quantidade dela; eu não entendi muito bem essa parte porque estava limpando meus óculos 3D bem na hora. Mas não é preciso saber muito, trata-se do grande tesouro, o motivo para os americanos sairem por aí invadindo territórios e matando seres vivos. Não que eles precisem de motivo pra isso, mas enfim...

Jake tem que se conectar com um Avatar (uma versão bem terrivelzinha do irmão no formato dos habitantes de Pandora). Chamaram ele porque o genoma era o mesmo do irmão, de maneira que a conexão poderia ser feita. Jake dorme, o Avatar começa a funcionar. O Avatar dorme, Jake começa a funcionar. Nessa hora eu quase achei interessante: se eu entrasse na brincadeira, podia fazer várias suposições sobre consciência, espírito, alma e tudo mais.

Mas não estamos falando de minhas idéias, mas do James Cameron e cia. E de Hollywood, claro. E eu esperando a Jornada da Alma... Que ingenuidade!

Mas tudo bem, porque era um marco na história cinematográfica.

Enfim, Jake chega a Pandora, se mete em encrenca e é salvo por uma nativa. Suponho que devia ser bonita , pra quem tem 3m de altura e é azul, mas enfim, ele também tinha seu charme... Ela quase mata ele, mas recebe um sinal de que ele é bonzinho e leva ela pro povo dela, onde decidem que ela vai ensinar tudo a ele sobre como ser um "deles". De noite, ele volta a ser Jake e conta tudo pros americanos: é um espião. Só que a coisa se complica quando ele (adivinhem!) se apaixona por ela (ohhhhhhh!). Eles ficam juntos, o pai dela pergunta pra ela na frente a tribo se eles acasalaram e eu preciso de alguns minutos pra me recuperar da desgraça em que me meti.

E aí já foram horas de filme em que nada aconteceu. Só então os americanos decidem derrubar uma árvore e o Jake tem que confessar que traiu o povo, contou seus segredos e que eles precisam fugir pra se salvarem. Eles, claro, prendem ele e saem correndo. Um deles volta e solta ele pedindo ajuda. Os americanos chegam, destroem tudo, a árvore cai e há um breve momento de silêncio porque alguns americanos pareciam se importar. Aparentemente, era uma árvore realmente importante, mas eu não lembro porque - tinham muitas árvores importantes...

Ainda assim, o Jake é visto como traidor pelos azulzinhos (por estar envolvido com os americanos) e pelos americanos (por estar envolvido com uma azulzinha) e começa a ser conectado e desconectado pelos americanos toda a hora pra tornar a coisa mais emocionante (!). Finalmente, ele e os amigos conseguem se enfiar em Pandora e se conectarem e ele vai atrás do povo pra fazê-los lutar contra os americanos, chamando povos por toda a Pandora pra ajudar. Só que, antes, ele precisa fazer os azulzinhos confiarem nele de novo. E como ele faz isso? Não, não é com um discurso bonito! Não, não é acasalando com a guria! É domando um leão feroz!

Tá, tudo bem, não é um leão feroz. É um bicho grande, vermelho e espalhafatoso que voa, mas dá quase no mesmo. O ponto é que o bicho era mega importante, poderoso, grande e ninguém nunca tinha conseguido se conectar (leia-se: ligar a trança dos cabelos no bicho de um jeito disgusting) a ele antes. Quando ele chega montado naquilo, tudo se resolve, todo muito respeita ele. Claro, porque a saída pra se conseguir alguma coisa sempre envolve intimidação, certo?

Poucas coisas nesse filme me deixaram tão enojada. Eu achei que estava tolerando tudo muito bem até aquele momento. Mas é essa a lição que qualquer produção americana acaba por passar, de um jeito ou de outro, não é? Você defende sua pátria com armas e conquista confiança a balas. Se você tem mais poder, intimida e, portanto, domina. Há muito que confiança deixou de ser adquirida com lealdade. Agora, como diria meu pai, "o maior engole o menor". Simplesmente deplorável.

Os últimos 15 minutos de filme são dois povos matando uns aos outros. A carnificina habitual. Um pouco antes, quando estavam se preparando pra guerra, o Jake azul reza pra deusa dos azulzinhos, pedindo ajuda. A guria vem e diz que a deusa não toma partido, mas equilibra as forças do universo. Achei que essa parte se salvava junto com a parte que ele diz que a humaninade já destruiu as riquezas da Terra e faz uma certa apologia aos cuidados que deveríamos ter com nosso planeta. Mas aí vai tudo por agua abaixo (junto com a natureza destruída pelas chamas) quando, no final da guerra, no momento em que só tá faltando o militar-chefão morrer pro filme acabar de uma vez, algo mágico acontece e bichos da natureza de Pandora vão ao socorro do Jake e a guria grita "Jake, a deusa atendeu às suas preces". Porque, então, ela não atendeu às preces uns minutinhos antes de toda aquela gente morrer?????

A parte divertida do final é ver os azulzinhos obrigando os americanos a voltar pra Terra. O Jake e alguns poucos ficam, é claro. E todos viveram felizes para sempre.

O que eu posso dizer? Eu não pretendo assistir de novo, mas é interessante ver o filme pelo que ele representa. Eu suponho que tudo que eles queriam era fazer o filme pelo que ele representa, não precisavam de uma boa história pra isso. Duvido que as pessoas tenham ido pela história,de qualquer forma. E, quem pretende ir pela história, não se incomode. A Disney criou um clássico, muitos anos atrás, que traz a moral da história de Avatar de um jeito bem mais despretensioso, encantador e com musiquinhas. Já viram Pocahontas? Dá pra baixar na internet e ver em casa! Daqui uns tempos talvez até façam em 3D, se essa for a questão!

Para aqueles que não notaram a semelhança, aí vai um link que pode ajudar a esclarecer. Tirem uns minutinhos. Não percam essa!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Oscar 2010: indicados e vencedores

Em função de alguns probleminhas com a TV, que reforçam minha teoria sobre carma e sobre o fato de que ser mulher é mesmo uma porcaria, acabei por perder a cerimônia do Oscar.
Uma pena, porque eu estou certa de que os comentários dariam um post bem melhor do que simplesmente atirar os indicados e vencedores aqui, depois de copiá-los de um site da internet.

Mas como a vida nem sempre parece justa...

Melhor filme

“Avatar”

“The Blind Sinde”

“Distrito 9

“Educação”

“Guerra ao Teror” – VENCEDOR

“Bastados Ingflórios”

“Preciosa”

“Um Homem Sério”

“Up – Altas Aventuras”

“Amor Sem Escalas”

Melhor diretor

James Cameron, “Avatar”

Kathryn Bigelow, “Guerra ao Terror” – VENCEDOR

Quentin Tarantino, “Bastardos Inglórios”

Lee Daniels, “Preciosa”

Jason Reitman, “Amor Sem Escalas”

Melhor ator

Jeff Bridges, “Crazy Heart” VENCEDOR

George Clooney, “Amor Sem Escalas”

Colin Firth, “A Single Man”

Morgan Freeman, “Invictus”

Jeremy Rennet, “Guerra ao Terror”

Melhor atriz

Sandra Bullock, “The Blind Side” VENCEDOR

Helen Mirren, “The Last Station”

Carey Mulligan, “Educação”

Gabourey Sidibe, “Preciosa”

Meryl Streep, “Julie & Julia”

Melhor ator coadjuvante

Matt Damon, “Invictus”

Woody Harrelson, “The Messenger”

Christopher Plummer, “The Last Station”

Stanley Tucci, “Um Olhar do Paraíso”

Christoph Waltz, “Bastardos Inglórios” - VENCEDOR

Melhor atriz coadjuvante

Penelope Cruz, “Nine”

Vera Farmiga, “Amor Sem Escalas”

Maggi, “Crazy Heart”

Anna Kendrick, “Amor Sem Escalas”

Mo’Nique, “Preciosa” - VENCEDOR

Melhor animação

“O Fantástico Sr. Raposo”

“Coraline e o Mundo Secreto”

“Up – Altas Aventuras” - VENCEDOR

“A Princesa e o Sapo”

“The Secret of Kells”

Melhor roteiro original

“Guerra ao Terror” - VENCEDOR

“Bastardos Inglórios”

“The Messenger”

“Um Homem Sério”

“Up – Altas Aventuras”

Melhor roteiro adaptado

“Distrito 9

“Educação”

“In the Loop”

“Preciosa” - VENCEDOR

“Amor Sem Escalas”

Melhor filme estrangeiro

“Teta Assustada”, Peru

“A Fita Branca”, Alemanha

“O Profeta”, França

“Ajami”, Israel

“O Segredo de Seus Olhos”, Argentina - VENCEDOR

Melhor direção de arte

“Avatar” - VENCEDOR

“O Imaginário do Dr. Parnassus”

“Nine”

“Sherlock Holmes”

“A Jovem Victoria”

Melhor fotografia

“Avatar” - VENCEDOR

“Harry Potter e o Enigma do Príncipe”

“Guerra ao Terror”

“Bastardos Inglórios”

“A Fita Branca”

Melhor figurino

“Brilho de uma Paixão”

“Coco Antes de Chanel”

“O Imaginário do Dr. Parnassus”

“Nine”

“A Jovem Victoria” - VENCEDOR

Melhor edição

“Avatar”

“Distrito 9

“Guerra ao Terror” - VENCEDOR

“Bastardos Inglórios”

“Preciosa”

Melhor maquiagem

“Il Divo”

“Star Trek” - VENCEDOR

“A Jovem Victoria”

Melhor trilha sonora

“Avatar”

“O Fantástico Sr. Raposo”

“Guerra ao Terror”

“Sherlock Holmes”

“Up – Altas Aventuras” - VENCEDOR

Melhor canção original

“A Princesa e o Sapo”, com “Almost There”

“A Princesa e o Sapo”, com “Down in New Orleans”

“Paris 36, com Loin de Paname

“Nine”, com “Take It All”

“Crazy Heart”, com “The Weary Kind” - VENCEDOR

Melhor documentário de longa-metragem

“Burma VJ”

“The Cove” - VENCEDOR

“Food, Inc”

“The Most Dangerous Man in America”

“Which Way Home”

Melhor documentário de curta-metragem

“China’s Unnatural Disaster: The Tears of Sichuan Province”

“The Last Campaign of Governor Booth Dardner”

“Music by Prudence” - VENCEDOR

“Rabbit à la Berlin”


No fim, perder a coisa toda foi providencial porque eu não vi mesmo os filmes... Agora, eu sei que isso vai soar preconceituoso e errado já que eu não posso criticar algo que não assisti, mas tem que ter algo de muito errado com um mundo em que a Sandra Bullock ganha um Oscar por melhor atuação, não?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Desfile mirim/show de horrores

Em dezembro do ano passado, tive a oportunidade de participar (por livre e espontânea pressão) de um concurso de modelos mirins, promovido em Porto Alegre. Uma priminha minha de 5 anos estava inscrita e eu acabei a acompanhando durante todo o processo.

Tiramos a menina da cama às 8h da manhã de DOMINGO (!) e fomos ao shopping, onde seria realizado o evento. Foi somente às 9h30 que conseguimos entrar no local, tamanha era a fila que tivemos que enfrentar. Eram 10h20 quando finalmente conseguimos pegar o kit do evento, que consistia em uma camiseta e um jornalzinho de todos os concursos de beleza realizados na cidade. Depois disso, mais uma hora na fila para o ensaio.

Chegamos ao ensaio e sentamos com mais 500 pais e mães emocionados. Atrás de nós, uma menina de 13 anos xingava a mãe por alguma coisa que ela havia lhe solicitado. "Ok", pensei, "artistas são temperamentais".

O ensaio consistia em o organizador do evento passar algumas instruções às crianças, como por onde elas deveriam entrar, onde parar e por onde sair. Depois ele chamou uma produtora (bom, ele apresentou como produtora, mas nós ficamos em dúvida se era produtora ou produtor) para discursar. Ela falou sobre como o mundo da moda era competitivo, como eles deveriam suportar as horas na fila sem reclamar e como a recompensa viria um dia. Disse que os pais tinham que esquecer todo o cansaço e ficarem felizes por seus filhos porque, afinal, todos ali (todos mesmo!) queriam ser modelos e, já que os pais não conseguiram, estavam projetando nos filhos aquela vontade.

Foi ali que eu quase me levantei e saí. Havia passado toda minha manhã de domingo numa fila para ouvir que aquelas crianças estavam ali para suprir as frustrações dos pais. Quando ninguém se levantou, eu achei que deveria ficar só por curiosidade de ver onde aquilo iria parar.

É claro que eu sei que existe esta tendência dos pais de empurrar aos filhos aquilo que eles não conseguiram realizar, mas é o tipo de coisa que ninguém fala em voz alta. Nunca pensei que isso seria dito de forma tão explícita quanto me foi passada naquele dia, nem que os pais fossem tão coniventes com esta idéia.

O "ensaio" acabou às 12h30 e eu nunca me senti tão inútil em toda a minha vida. Pra ter a impressão que estava fazendo algo interessante, comecei a anotar mentalmente minhas considerações. Fomos almoçar e aguardar o início do desfile, que iniciava às 14h30. Fomos espertos, desta vez! 13h30 estávamos na fila. Dessa vez só esperamos por 45 minutos. Perto de nós, uma mãe maquiava a filha de 3 anos(sendo que as regras do concurso não permitiam maquiagem!). Então entramos no salão e os pais deixaram seus filhos com os desconhecidos da indústria da moda e subiram para aguardar suas apresentações.

É claro que o desfile atrasou. Às 14h45, outro organizador do evento - aparentemente referência na área -, discursou sobre como, a partir daquele momento, os filhos daqueles pais seriam observados pelas 10 mais renomadas agências de modelos de Porto Alegre. Ele disse que aquelas seriam as pessoas que iriam dizer que seus filhos deveriam emagrecer, suportar a dor e sorrir quando estivessem chorando por dentro.

Minha esperança era que alguém, qualquer um, se levantasse dali e levasse o filho embora. Mas, aparentemente, o maior desejo daqueles pais, era que suas meninas morressem de anorexia e escondessem suas emoções. Eles haviam pago 800 reais por isso, não?

Como se tudo já não estivesse aterrorizante, o desfile começou. Um verdadeiro show de horrores. E foi ali que eu parei de culpar os pais - ou pelo menos alguns deles porque cheguei a conclusão de que alguns traços são realmente inatos e se manifestam muito cedo. Vi crianças ali que, com 5 anos, sabiam o que estavam fazendo, como se tivessem feito a vida toda. E adolescentes que,eu tive certeza, ameaçaram se atirar de um prédio se não participassem. Fiquei imaginando o que meu pai teria pensado se me visse desfilado em frente a todas aquelas pessoas, com 15 anos, usando uma calça justa, um scarpin altíssimo (quando as ordens da produção eram pra ser tênis) e aquela camiseta (que era pra ser larguinha e comum) levantada até abaixo do seio e amarrada para ficar justa, deixando toda a barriga à mostra. Haviam pais ali que pareciam muito orgulhoso. Deve ser por isso que meu pai nunca me inscreveu num concurso de modelos e vivia me mandando fazer curso de corte e costura.

Vejam bem, não sou moralista, tampouco hipócrita a ponto de dizer que nunca usei saia curta na adolescência, mas é diferente quando você quer - quase sem saber muito bem como - chamar atenção do "gatinho" da sala de aula. Ver aquelas meninas se exporem da maneira que eu vi, era manipulação sexual baixa e deprimente. E aprovada pelos pais!

Ainda assim, nem tudo está perdido. Também vi filhos mais maduros que os pais, que não queriam estar ali, que estavam claramente forçados. Estes, subiam na passarela aos prantos, viam os flashes e saiam correndo. Estes eu aplaudia. Mas ser criança, infelizmente, tem muitas desvantagens e uma delas é o fato de que, mesmo que você esteja em profundo desespero, sua mãe sempre pode lhe pegar no colo, sorrir, e subir na passarela pra lhe expor àquelas 10 pessoas de referência que, no futuro, vão lhe ensinar a não comer e não mostrar o que sente. Alguns pais simplesmente não aceitam que seus filhos não compartilham de seus sonhos.

Agora, vejam, isso é o que me faz pensar, as vezes, que nós, a raça humana, nunca deveríamos ter descido das árvores. Sim, porque não é natural, não é evolutivo, tampouco civilizado, uma mãe sorrir enquanto seu filho chora. Quando a cria está em sofrimento, a mãe também fica em sofrimento. Isto não é apenas a minha opinião, é um dado de realidade que pode ser encontrado em qualquer pesquisa sobre espécies animais. Duvido que a fêmea estivesse feliz ao ver a cria chorar quando éramos macaquinhos.

Houve um momento que eu encarei uma mãe do outro lado da passarela, sentada à minha frente. Ela chorava. Fiquei me perguntando o que ela estaria pensando. Será que ela tinha idéia que a anorexia é uma das psicopatologias que mais tem matado na atualidade? Será que ele estava sabendo que seu filho/filha teria um futuro banhado de "inas"? Anfetaminas, cocaínas, ritalinas? Que teria sua vida exposta sem dó nem piedade e que seu sofrimento seria explorado nos jornais e revistas? Não. Ela estava chorando porque seu filho/filha seria famoso, seria fotografado, ganharia dinheiro.

Porque é isso que funciona nesse mundo, não é? É mais lucrativo ser burro e bonito ao invés de ser apenas inteligente. Jogadores de futebol, modelos, atores. Todos eles ganham muito mais do que qualquer um de nós que escolhemos a ciência. Nossos ídolos não pensam. Infelizmente esta é a realidade que estamos encarando e é isso que nossas crianças estão tendo com que se deparar.

Eu só lamento que isto pareça ser uma tendência.