domingo, 9 de dezembro de 2012


Cinquenta tons... de polêmica

Acabei de terminar de ler a trologia Cinquenta Tons. Estive intrigada com o livro há algum tempo, depois que estourou e metade das mulheres que eu conhecia me recomendavam a leitura e a outra metade estava ultrajada. Achei que valia à apena. Além disso, precisava me distrair.

Como distração, está aprovadíssimo! É divertido, tem um bom ritmo, especialmente os dois primeiros livros; o terceiro já é menos empolgante. E a história? Não há muita, na verdade. Não no que se refere a continuismo, tanto é que os três livros se passam em menos de 1 ano. E tudo acontece muito rápido. Pra falar a verdade, a autora nem escreve muito bem e a história não foge muito dos clichês romanticos, com a exceção do que vem excitando e ultrajando a população feminina: o sadomasoquismo.

Para os desinformados na área da literatura, a trilogia trata da história de Anastacia Steele, uma menina de 21 anos que acaba de se formar e conhece o magnata Christian Grey, de 26 anos, que tem preferências sexuais atípicas. A pobre coitada, virgem, se envolve com ele esperando nada menos que romance e ele só está interessado – a princípio – em espancá-la em seus josgos sexuais. Com o tempo, claro – e não muito tempo, devo dizer -, eles se apaixonam, mas os diferentes hábitos de Christian tornam a relação confusa e difícil.

No primeiro livro, tudo que vemos é uma mary sue virgem, ingênua e linda, em quem todos os homens estão interessados. O livro trata do conflito dela em descobrir este mundo sexual completamente diferente dos romances de Jane Eyre a que está acostumada. Ao mesmo tempo, ela está fascinada por este homem por quem vai se apaixonando aos poucos, mas que pensa ser patológico. O segundo livro é sobre desvendar as profundezas de Christian, ainda sob o ponto de vista de Anastacia. Neste livro, eles já estão cientes do que sentem um pelo outro e descobrindo e superando os traumas de Christian, que o levaram a uma vida solitária, evitativa de relacionamentos afetivos nos quais ele não achava ser capaz de se envolver. Por fim, o terceiro livro trata-se de estabilizar a nova vida dos dois, com os desafios que uma relação afetiva saudável necessita para sobreviver.

E sim, eu gosto de usar o termo saudável porque, ao contrário do que tenho lido por aí, não acho que exista algo de patológico em qualqer atividade sexual consensual, entre dois adultos que desejam ser mais “criativos”. Tenho lido algumas críticas feministas a posição de submissão em que Christian coloca Ana, principalmente porque, segundo tais críticas, trata-se de machismo. O que me chama a atenção é que a mesma revista que trata isso como machismo tem uma sessão inteira para falar de beleza: rimel, pele sedosa e unhas bem cuidadas (claro, apenas para você agradar a si mesma, imagina que absurdo querer ficar bonita para seu namorado machista, é claro que ninguém lá pensa nisso!).

Já li, também, os mesmos discursos feministas da década de 60, dizendo que a mulher não pode subter-se ao homem em nenhum contexto, que a mulher nunca será valorizada em uma posição de submissão e que a publicação deste livro, em que Ana é colocada em uma posição de submissa sexual vai contra todas as tentativas de valorização da mulher. O vilão Christian atacando a pobre vítima Anastacia. O livro deveria ser proibido, já li em algum lugar.

Ora, as mesmas pessoas que gritam por liberdade resolveram queimar livros depois do sutiã? E, por favor, esta postura de vitimização está ficando ultrapassada. Não me entendam mal, não me considero machista, mas tampouco sou feminista. Sou apenas uma pessoa vivendo em uma sociedade e utilizando meus melhores recursos pessoais para obter o que alguns chamam de felicidade. Com isso não estou dizendo que a mulher ainda não é oprimida socialmente ou que os salários femininos são compatíveis com os masculinos, por que não é bem assim. Mas sair por aí queimando livros porque eles colocam uma personagem voluntariamente interessada em dar prazer ao outro – que, por acaso, é homem – é um pouco de exageiro.

E mais! É a primeira vez em algum tempo que leio um livro em que os personagens são imperfeitos! Ela toda ingênua e confusa com relação a si mesma de forma quase irrealista e ele, como mesmo se define, danificado em cinquenta tons. O que consegui extrair desta relação não foi a superficial submissão que ultrajaram muitas mulheres, ou a empolgação sexual que libertou tantas outras, mas sim o apoio mútuo no sentido de darem-se prazer e ajudarem-se no que eram capazes. Eles evoluiram, superaram traumas profundos, feridas expostas, juntos. Desde quando doação incondicional virou sinônimo de patologia e perversidade? Pra mim significa assistência e amor. Machistas ou feministas, não é isso que todos queremos?

sábado, 8 de setembro de 2012


30 dias de vida

Às vezes me pergunto o que aconteceria comigo se eu descobrisse quando vou morrer. Eu sei, soa meio mórbido, mas pensem sobre isso. Todos sabemos que vamos morrer um dia, mas a vida é esperta o suficiente para não informar a data. É confortável, não é? Permite a ilusão de que vamos durar para sempre, que podemos fazer planos a longo prazo e que esses planos justificam fazermos coisas que não gostamos de fazer. É bom pensar que tudo vai valer a pena, que estamos plantando algo para colhermos no futuro. Às vezes me pergunto se haveria plantação se não houvesse futuro.

E eu fico pensando em números. Quando penso sobre isso, sempre imagino algo como 30 dias de vida restantes. Sei, parece dramático, mas pensem nisso por um instante: é tempo suficiente para buscar algumas coisas que sempre se quis, mas pouco tempo para se preocupar com as contas a pagar no mês seguinte. Assim, ninguém tem a desculpa de que “não tem dinheiro”. Essa é a desculpa mais aceita no mundo: “não tenho dinheiro”. Boa parte das pessoas entende que isso não é tão simples de resolver e encerra, por aí, qualquer que for o assunto.

Mas e se dinheiro não fosse o problema? Se pudéssemos estourar o limite do cartão pelo simples fato de que não estaríamos vivos para nos complicar com a conta? Eu sei, além de mórbida e dramática, estou sendo egoísta, mas vamos lá, eu só teria mais 30 dias de vida... Isso seria outra coisa boa. As pessoas compreenderiam, apoiariam e estariam presentes para qualquer de suas esquisitices, afinal, você está morrendo! Além disso, se as pessoas soubessem que você só teria 30 dias, não seria muito complicado para elas adiar alguns afazeres. Seria por pouco tempo, só 4 semanas até você morrer e elas voltarem para suas vidas imortais. 

Eu sei, mórbida, dramática, egoísta e sarcástica. Mas só por um momento, tolerem.

Todas aquelas coisas desagradáveis que fazemos para colher no futuro perderiam o sentido: não haveria futuro. Essas coisas, deixaríamos de lado.
A maior parte das pessoas provavelmente diriam que ficariam mais tempo com a família e amigos. Mas o prazo de 30 dias também é bom por isso. Imagino que boa parte de nós enjoaria de passar todo seu tempo com família e amigos, mesmo que fossem só mais 30 dias. E não seria como passar as férias com eles. É claro que não ficamos entendiados com família e amigos nas férias, mas isso é só porque ocupamos boa parte das férias para descansar. No meu cenário, descansar ficaria, literalmente, para depois.

Por fim, eu me pergunto se haveria algo que não estamos fazendo e que começaríamos a fazer no minuto seguinte à previsão de nosso óbito. Essa sim é uma grande incógnita.
Eu sei, cada um tem uma resposta diferente para meus questionamentos. Mas minha principal inquietação não está tão relacionada com a resposta em si, mas sim, em porque não priorizamos esta resposta ao invés de qualquer outra coisa.

domingo, 25 de março de 2012


O melhor de mim – Nocholas Sparks

Como toda a literatura romântico-dramática, essa eu li em apenas 5 horas. Do mesmo autor de outros dramas adaptados para o cinema, “O melhor de mim” já tinha um título atraente. E eu realmente precisava de uma literatura romântico-dramática-lição-de-vida pra variar.

O livro é sobre dois jovens que se apaixonam na adolescência e têm seu amor proibido pela família dela. Eles se reencontram, 25 anos depois, e viajam nas lembranças com a mesma intimidade e amizade que compartilharam na época.

E isso é tudo que posso dizer de bom. O resto é puro sofrimento.

Acho que Sparks está começando a confundir “drama” com “sangria desatada”. Desde quando se precisa quase matar todos os personagens pra se ter um bom livro? Ou encher todo mundo de culpa, se é que isso é relevante? Tudo bem, todo o bom drama sempre envolve sofrimento mas, lendo esse livro, eu passei em agonia constante; até agora sinto meu corpo tenso e vontade de chorar em angústia. E mesmo quando eu tive um momentozinho de felicidade, Sparks consegue, dez páginas depois, acabar com a fantasia.

Para os fãs, eu recomendo, é claro. Não posso deixar de admitir que há um fundo de beleza no fim terrível que o autor propõe. Ainda assim, eu questiono as consequências posteriores ao final. Aliás, ultimamente, devo dizer que os Epílogos andam estragando os livros pra mim. Não entendo porque os autores andam tendo essa necessidade de contar absolutamente tudo. Ninguém contou pra eles que a moral do livro é deixar um pouco para a imaginação do leitor? Acho que vou ler Machado de Assis pra tentar curar meu desânimo. Ele sim era mestre em deixar as coisas abertas à interpretações.

No fim das contas, suponho que eu já deveria ter previsto: "Um amor para Recordar" estreou como uma formidável lição de vida; "O diário de uma paixão", representou uma história de amor belíssima... e só; já "Querido John" tentou ser um drama de guerra, mas sem muito sucesso; Pela ordem natural da decadência de um autor, é claro que "O melhor de mim" seria mesmo uma ambiguidade revoltante. Tomara que Nicholas Sparks pare por aí ou retome os velhos tempos, porque, da próxima vez, não consigo pensar em como o final consiga passar de “simplesmente triste e ruim”.

sábado, 21 de janeiro de 2012


Os heróis brasileiros

“Brasileiro não desiste nunca”. Não desiste de ser idiota, isso sim! Nisso, estamos cada vez mais persistentes.

Estava vendo um vídeo do Jornal do SBT. Depois de algumas experiências que tive por aí, defini alguns parâmetros do que é e do que não é um bom jornal e uma equipe ética e descente. Neste jornal, o apresentador faz um desabafo interessante. Adicionei o vídeo para que todos tenham acesso.



O caso é que nós estamos enfrentando alguns problemas bem sérios de bom senso e juízo crítico. Eu estava hoje mesmo ouvindo uma entrevista na rádio com a Ministra sobre o Bolsa Família. Aliás, aposto que os beneficiados do bolsa família não ouviram porque os 38% que não trabalham estava assistindo ao BBB ou conversando sobre uma paraibana qualquer que resolveu voltar do Canadá.

Agora me expliquem como isso funciona: as pessoas ignoram atrocidades reais pra que possam assistir ao Bial falar sobre os “heróis” que se envolveram ou não em um estupro? E veja bem, os heróis não estavam salvando ninguém do abuso. Pô! O cara cobriu a queda do Muro de Berlin. Será que ele está satisfeito com o rumo que deu à própria carreira? Eu estive em bem menos momentos históricos que ele e estou realmente focada em fazer algo melhor que isso.

Vai parecer infantil, mas eu fui criada brincando de Princesa, assistindo Power Rangers e lendo Harry Potter. Nas minhas histórias, os heróis salvavam pessoas usando poderes extraordinários e tentavam organizar a sociedade. Quando eles agiam, as mocinhas eram salvas das bruxas e os assassinos preconceituosos, derrotados. Nas minhas histórias infantis ninguém fazia festa toda a semana pra curar o tédio de passar os outros 6 dias tomando sol à beira da piscina.

Minha infância foi muito boa. Eu tive alguns bons educadores e gente que se importava em discutir os problemas do país e do mundo. Fui educada para me responsabilizar pelas minhas ações e assumir os riscos a fim de ser uma boa pessoa. Gosto de pensa que me encaminho para conseguir ajudar a desenvolver um planeta melhor.

Não se trata de qualquer ato de heroísmo, apenas de se importar, algo cada vez mais difícil de encontrar por aí. Sim, porque enquanto alguns poucos fazem trabalho voluntário, outros muitos sobrevivem de bolsa sei-lá-o-que. Enquanto esse povo assiste ao BBB todos os dias, tem um monte de outras coisas importantes acontecendo que ninguém parece perceber.

Onde foi parar nossa consciência e a capacidade de nos importarmos realmente com algo construtivo? Porque deve haver algo muito errado em um país em que os heróis ficam bebendo até cair enquanto há tanto para ser salvo do lado de fora do confinamento.