domingo, 20 de novembro de 2011


Criatividade*

Criatividade é algo interessante. Um belo dia, na universidade, dois amigos resolvem criar uma rede de comunicação entre os colegas para combinar coisas e fazer mais amigos. Um ano mais tarde, a história do Facebook já virou filme em Hollywood. Em outro país distante, uma mulher sentada em um trem para Edimburgo começa a pensar em uma história cheia de crianças que podem fazer coisas extraordinárias em uma escola de magia. Dali a pouco, eu mesma coloco um chapéu de bruxa e vou ao cinema na estréia de Harry Potter – carregando amigas desavisadas comigo!

Criatividade é algo realmente interessante. E deixa as pessoas ricas!

Quem me conhece sabe que, um dia, talvez daqui há alguns anos, quando eu tiver tempo e dinheiro suficiente para tirar um ano sabático, eu ainda vou escrever um livro. Quem me conhece também sabe que eu gostaria muito que esse futuro livro vendesse bastante – não porque eu quero ser famosa ou qualquer coisa do tipo, mas porque eu adoraria ganhar dinheiro para só ficar escrevendo.

Essa idealização tanto me empolga quanto me apavora, uma vez que, quanto mais eu leio, mais descubro que muita coisa já foi escrita. Aliás, essa é a pergunta da vez: o que ainda não foi pensado? O quanto, realmente, hoje, nós conseguimos ser originais e/ou criativos? Criatividade, em minha opinião, não se trata de inventar algo completamente novo, que nunca foi visto, original. Trata-se de pegar aquilo que não é tão novo e transformar em algo diferente do que já foi visto.

Vamos, primeiro, com o básico: livros. Não existe nada melhor do que uma história interessante. Mas aí, se analisarmos, quantos dos livros interessantes que lemos são originais? Eu diria muito poucos – provavelmente os mais antigos. Criativos, temos mais.

Vampiros. Um assunto mais antigo que eu mesma. Nosferatu, Conde Drácula, todos extremamente originais em uma época em que isso não havia sido visto. Hoje, colocamos esses mesmos sujeitos no Hight School, adicionamos um pouco de glitter e temos Crepúsculo.

Aliás, coloque qualquer coisa no Hight School, some alguns apetrechos e vai se vender mais que água. Harry Potter nada mais é do que um monte de histórias antigas compiladas e torcidas em uma história de heroísmo e orfandade. Original? Não. Criativo? Talvez. Interessante? MUITO! Hight School Musical é uma facada em todos aqueles que amam o Fantásma da Ópera. Alguém resolveu colocar crianças cantando e pronto: temos um sucesso de bilheteria e um monte de atores ruins bem remunerados.

Saindo dos filmes e indo para as séries, é interessante como a criatividade vai caindo. Isso porque eles pararam de colocar coisas antigas em um novo contexto e começaram a simplesmente misturar uma coisa com a outra. Esses dias eu estava falando com uma amiga sobre Haven, uma séria baseada em um livro do Stephen King que trata sobre uma policial que tenta desvendar misteriosos acontecimentos em uma cidadezinha em que as pessoas são “trouble”. Ela, por acaso, é imune aos “troubles” e por isso mesmo consegue ajudar. Quando comentei isso com a minha amiga, ela simplesmente disse “tem certeza que tu nunca viu isso antes? A menina que é imune aos poderes alheios e uma cidade cheia de gente com poderes?... É uma mistura de Smallville e Crepúsculo!”.

Fato. Depois disso comecei a analisar outras séries. Comecei a assistir Terra Nova, uma novidade nesta temporada de estréias que fala sobre uma civilização do futuro que volta ao passado para ter melhores condições de vida, uma vez que o planeta está destruído no ano que eles vivem. Eles voltam 85 milhões de anos. O troço é uma mistura de Lost e Parque dos Dinossauros.

O que me leva a mais apavorante pergunta: Será que ainda veremos uma nova idéia brilhante por aí? Alguma coisa do tipo quando eu tinha 10 anos e meus pais chegaram em casa com um objeto pesado, grande e preto escrito “Mottorola”, que prometia ser um telefone sem fio que poderia ser usado bem longe de casa. Nossa, o “tijolão” era caro e uma revolução tecnológica. Será que alguém mais vai pensar em algo assim, que nos empolgue, que nunca tenhamos visto em lugar algum?

Eu gostaria muito de dizer sim e pensar que talvez isso seja meu livro e não mais uma rede social que faça um nerd ficar bilhonário e ter sua história indicada ao Oscar, mas tenho minhas dúvidas. Quer dizer, nossos pais pegaram uma época em que tudo era original. Enquanto na infância e adolescência, nós vivenciamos a parte criativa e agora que o Steve Jobs morreu restará às próximas gerações as novelas e imitações de IPhone.

O que será que pode reverter esse fluxo?


*Este port foi originalmente criado para o espaço "Olá, vizinho!", do site da minha querida amiga Cristina Tronco. Confiram o blog dela! http://atelierdatininha.blogspot.com

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