Criatividade*
Criatividade é algo interessante.
Um belo dia, na universidade, dois amigos resolvem criar uma rede de
comunicação entre os colegas para combinar coisas e fazer mais amigos. Um ano
mais tarde, a história do Facebook já virou filme em Hollywood. Em outro país
distante, uma mulher sentada em um trem para Edimburgo começa a pensar em uma
história cheia de crianças que podem fazer coisas extraordinárias em uma escola
de magia. Dali a pouco, eu mesma coloco um chapéu de bruxa e vou ao cinema na
estréia de Harry Potter – carregando amigas desavisadas comigo!
Criatividade é algo realmente
interessante. E deixa as pessoas ricas!
Quem me conhece sabe que, um dia,
talvez daqui há alguns anos, quando eu tiver tempo e dinheiro suficiente para
tirar um ano sabático, eu ainda vou escrever um livro. Quem me conhece também sabe
que eu gostaria muito que esse futuro livro vendesse bastante – não porque eu
quero ser famosa ou qualquer coisa do tipo, mas porque eu adoraria ganhar
dinheiro para só ficar escrevendo.
Essa idealização tanto me empolga
quanto me apavora, uma vez que, quanto mais eu leio, mais descubro que muita
coisa já foi escrita. Aliás, essa é a pergunta da vez: o que ainda não foi
pensado? O quanto, realmente, hoje, nós conseguimos ser originais e/ou
criativos? Criatividade, em minha opinião, não se trata de inventar algo completamente
novo, que nunca foi visto, original. Trata-se de pegar aquilo que não é tão
novo e transformar em algo diferente do que já foi visto.
Vamos, primeiro, com o básico:
livros. Não existe nada melhor do que uma história interessante. Mas aí, se
analisarmos, quantos dos livros interessantes que lemos são originais? Eu diria
muito poucos – provavelmente os mais antigos. Criativos, temos mais.
Vampiros. Um assunto mais antigo
que eu mesma. Nosferatu, Conde Drácula, todos extremamente originais em uma
época em que isso não havia sido visto. Hoje, colocamos esses mesmos sujeitos
no Hight School, adicionamos um pouco de glitter e temos Crepúsculo.
Aliás, coloque qualquer coisa no
Hight School, some alguns apetrechos e vai se vender mais que água. Harry
Potter nada mais é do que um monte de histórias antigas compiladas e torcidas
em uma história de heroísmo e orfandade. Original? Não. Criativo? Talvez. Interessante?
MUITO! Hight School Musical é uma facada em todos aqueles que amam o Fantásma
da Ópera. Alguém resolveu colocar crianças cantando e pronto: temos um sucesso
de bilheteria e um monte de atores ruins bem remunerados.
Saindo dos filmes e indo para as
séries, é interessante como a criatividade vai caindo. Isso porque eles pararam
de colocar coisas antigas em um novo contexto e começaram a simplesmente
misturar uma coisa com a outra. Esses dias eu estava falando com uma amiga
sobre Haven, uma séria baseada em um livro do Stephen King que trata sobre uma
policial que tenta desvendar misteriosos acontecimentos em uma cidadezinha em
que as pessoas são “trouble”. Ela, por acaso, é imune aos “troubles” e por isso
mesmo consegue ajudar. Quando comentei isso com a minha amiga, ela simplesmente
disse “tem certeza que tu nunca viu isso antes? A menina que é imune aos
poderes alheios e uma cidade cheia de gente com poderes?... É uma mistura de
Smallville e Crepúsculo!”.
Fato. Depois disso comecei a
analisar outras séries. Comecei a assistir Terra Nova, uma novidade nesta
temporada de estréias que fala sobre uma civilização do futuro que volta ao
passado para ter melhores condições de vida, uma vez que o planeta está
destruído no ano que eles vivem. Eles voltam 85 milhões de anos. O troço é uma
mistura de Lost e Parque dos Dinossauros.
O que me leva a mais apavorante
pergunta: Será que ainda veremos uma nova idéia brilhante por aí? Alguma coisa
do tipo quando eu tinha 10 anos e meus pais chegaram em casa com um objeto
pesado, grande e preto escrito “Mottorola”, que prometia ser um telefone sem
fio que poderia ser usado bem longe de casa. Nossa, o “tijolão” era caro e uma
revolução tecnológica. Será que alguém mais vai pensar em algo assim, que nos
empolgue, que nunca tenhamos visto em lugar algum?
Eu gostaria muito de dizer sim e
pensar que talvez isso seja meu livro e não mais uma rede social que faça um
nerd ficar bilhonário e ter sua história indicada ao Oscar, mas tenho minhas
dúvidas. Quer dizer, nossos pais pegaram uma época em que tudo era original. Enquanto
na infância e adolescência, nós vivenciamos a parte criativa e agora que o
Steve Jobs morreu restará às próximas gerações as novelas e imitações de IPhone.
O que será que pode reverter esse
fluxo?
*Este port foi originalmente criado para o espaço "Olá, vizinho!", do site da minha querida amiga Cristina Tronco. Confiram o blog dela! http://atelierdatininha.blogspot.com