sábado, 13 de março de 2010

Pocahontas no futuro (ou Avatar)

Voltei do cinema agora a pouco, após ter sido vencida por um excelente argumento para assistir Avatar. Eu andava me recusando desde que começaram a divulgar o filme, mas então, uma amiga minha que faz cinema resolveu me dizer que, em um futuro não muito distante, as pessoas vão dizer que Avatar revolucionou o cinema 3D, que foi um marco e blábláblá. Eu quero poder dizer "sim, eu estava lá, participei deste momento histórico, assisti o filme... e era uma porcaria".

Não posso falar muito dos efeitos ou da animação a não ser que pareciam bons. Não sou especialista e, quando se trata de 3D, minha unica e tosca observação é que é muito divertido ver as coisas saindo da tela. Fim.

Mas eu sou boa para falar de histórias. Das boas e também das do James Cameron. E também gosto de largar comentários como os de que foi bem feito que ele perdeu pra ex-mulher.

Mas falando da história. Eu preciso começar dizendo que se o filme não fosse a porcaria de um marco, eu não tinha ficado até o final. Como disse uma outra amiga minha, você passa todo tempo com a sensação de que "hum, acho que eu já vi isso em algum lugar...". É um clichê americano de quinta. Uma cópia descarada de um monte de outras coisas que nem eram tão boas assim pra serem copiadas.

Mas vamos aos fatos: o filme começa com um cara (Jake Sully) na cadeira de rodas (claro) que é chamado pra substituir o irmão gêmeo-atleticamente aceitável-morto em uma missão a terra de Pandora atrás de uma pedrinha muito valiosa - ou de grande quantidade dela; eu não entendi muito bem essa parte porque estava limpando meus óculos 3D bem na hora. Mas não é preciso saber muito, trata-se do grande tesouro, o motivo para os americanos sairem por aí invadindo territórios e matando seres vivos. Não que eles precisem de motivo pra isso, mas enfim...

Jake tem que se conectar com um Avatar (uma versão bem terrivelzinha do irmão no formato dos habitantes de Pandora). Chamaram ele porque o genoma era o mesmo do irmão, de maneira que a conexão poderia ser feita. Jake dorme, o Avatar começa a funcionar. O Avatar dorme, Jake começa a funcionar. Nessa hora eu quase achei interessante: se eu entrasse na brincadeira, podia fazer várias suposições sobre consciência, espírito, alma e tudo mais.

Mas não estamos falando de minhas idéias, mas do James Cameron e cia. E de Hollywood, claro. E eu esperando a Jornada da Alma... Que ingenuidade!

Mas tudo bem, porque era um marco na história cinematográfica.

Enfim, Jake chega a Pandora, se mete em encrenca e é salvo por uma nativa. Suponho que devia ser bonita , pra quem tem 3m de altura e é azul, mas enfim, ele também tinha seu charme... Ela quase mata ele, mas recebe um sinal de que ele é bonzinho e leva ela pro povo dela, onde decidem que ela vai ensinar tudo a ele sobre como ser um "deles". De noite, ele volta a ser Jake e conta tudo pros americanos: é um espião. Só que a coisa se complica quando ele (adivinhem!) se apaixona por ela (ohhhhhhh!). Eles ficam juntos, o pai dela pergunta pra ela na frente a tribo se eles acasalaram e eu preciso de alguns minutos pra me recuperar da desgraça em que me meti.

E aí já foram horas de filme em que nada aconteceu. Só então os americanos decidem derrubar uma árvore e o Jake tem que confessar que traiu o povo, contou seus segredos e que eles precisam fugir pra se salvarem. Eles, claro, prendem ele e saem correndo. Um deles volta e solta ele pedindo ajuda. Os americanos chegam, destroem tudo, a árvore cai e há um breve momento de silêncio porque alguns americanos pareciam se importar. Aparentemente, era uma árvore realmente importante, mas eu não lembro porque - tinham muitas árvores importantes...

Ainda assim, o Jake é visto como traidor pelos azulzinhos (por estar envolvido com os americanos) e pelos americanos (por estar envolvido com uma azulzinha) e começa a ser conectado e desconectado pelos americanos toda a hora pra tornar a coisa mais emocionante (!). Finalmente, ele e os amigos conseguem se enfiar em Pandora e se conectarem e ele vai atrás do povo pra fazê-los lutar contra os americanos, chamando povos por toda a Pandora pra ajudar. Só que, antes, ele precisa fazer os azulzinhos confiarem nele de novo. E como ele faz isso? Não, não é com um discurso bonito! Não, não é acasalando com a guria! É domando um leão feroz!

Tá, tudo bem, não é um leão feroz. É um bicho grande, vermelho e espalhafatoso que voa, mas dá quase no mesmo. O ponto é que o bicho era mega importante, poderoso, grande e ninguém nunca tinha conseguido se conectar (leia-se: ligar a trança dos cabelos no bicho de um jeito disgusting) a ele antes. Quando ele chega montado naquilo, tudo se resolve, todo muito respeita ele. Claro, porque a saída pra se conseguir alguma coisa sempre envolve intimidação, certo?

Poucas coisas nesse filme me deixaram tão enojada. Eu achei que estava tolerando tudo muito bem até aquele momento. Mas é essa a lição que qualquer produção americana acaba por passar, de um jeito ou de outro, não é? Você defende sua pátria com armas e conquista confiança a balas. Se você tem mais poder, intimida e, portanto, domina. Há muito que confiança deixou de ser adquirida com lealdade. Agora, como diria meu pai, "o maior engole o menor". Simplesmente deplorável.

Os últimos 15 minutos de filme são dois povos matando uns aos outros. A carnificina habitual. Um pouco antes, quando estavam se preparando pra guerra, o Jake azul reza pra deusa dos azulzinhos, pedindo ajuda. A guria vem e diz que a deusa não toma partido, mas equilibra as forças do universo. Achei que essa parte se salvava junto com a parte que ele diz que a humaninade já destruiu as riquezas da Terra e faz uma certa apologia aos cuidados que deveríamos ter com nosso planeta. Mas aí vai tudo por agua abaixo (junto com a natureza destruída pelas chamas) quando, no final da guerra, no momento em que só tá faltando o militar-chefão morrer pro filme acabar de uma vez, algo mágico acontece e bichos da natureza de Pandora vão ao socorro do Jake e a guria grita "Jake, a deusa atendeu às suas preces". Porque, então, ela não atendeu às preces uns minutinhos antes de toda aquela gente morrer?????

A parte divertida do final é ver os azulzinhos obrigando os americanos a voltar pra Terra. O Jake e alguns poucos ficam, é claro. E todos viveram felizes para sempre.

O que eu posso dizer? Eu não pretendo assistir de novo, mas é interessante ver o filme pelo que ele representa. Eu suponho que tudo que eles queriam era fazer o filme pelo que ele representa, não precisavam de uma boa história pra isso. Duvido que as pessoas tenham ido pela história,de qualquer forma. E, quem pretende ir pela história, não se incomode. A Disney criou um clássico, muitos anos atrás, que traz a moral da história de Avatar de um jeito bem mais despretensioso, encantador e com musiquinhas. Já viram Pocahontas? Dá pra baixar na internet e ver em casa! Daqui uns tempos talvez até façam em 3D, se essa for a questão!

Para aqueles que não notaram a semelhança, aí vai um link que pode ajudar a esclarecer. Tirem uns minutinhos. Não percam essa!

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