segunda-feira, 31 de maio de 2010

Not so LOST anymore

Há tantas coisas fabulosas que eu posso falar sobre o final de Lost que nem sei por onde começar. Isso talvez choque ou revolte algumas pessoas, por que eu geralmente sei por onde iniciar e terminar tudo que eu faço, ou mesmo porque teve muita gente que não atribuiria, ao final de Lost, a palavra “fabuloso”.

Ainda assim, sugiro que permaneçam lendo, mesmo que discordem da minha opinião. Isso porque os motivos pelos quais eu achei a season finale fantástica, possivelmente não está tão relacionada aos detalhes técnicos/esclarecedores sobre os quais muitos ainda estão insatisfeitos.

Mas antes de eu começar (sim, o post vai ser extenso – nada mais justo, considerando que o final tem quase 2hrs), permitam-me explicar minha história com Lost; assim talvez seja compreensível a razão pra eu achar tudo tão bom.

Como muitas das coisas em que eu me viciei na minha vida (não, não uso/usei nenhuma droga, lícita nem ilícita – falo de entretenimento), comecei a assistir Lost por insistência alheia. Foi assim com Harry Potter e um monte de outras coisas.

Um ano depois que a primeira temporada foi ao ar e o mundo todo já amava a série, eu me enfiei em um bus capenga com uns amigos em um daqueles programas de índio divertidíssimos e, de madrugada, o pneu furou pertinho ali do além. Aí, alguém teve a brilhante idéia de gritar “estamos em Lost!” e eu, na minha ignorância perguntei: “como assim em Lost?”.

Isso foi o que todos precisavam pra se distrair do problema do pneu furado no meio do nada às 3h da manhã. Metade do ônibus resolveu que eu deveria saber tudo que já existia a respeito das pessoas que sofreram aquele acidente de avião. Em algumas horas, eu já sabia de tudo que estava rolando e uma das minha amigas teve o insight de dizer que eu ia adorar analisar tudo psicologicamente. Isso é a senha que eu preciso. Sobrevivi à viagem e, quando cheguei em casa, fui correndo assistir tudo que já tinha sido exibido.

Não levou uma semana, eu já estava afoita por mais. Anos se passaram em que eu discutia algumas teorias com amigos e lia coisas na internet. Mas o tempo foi passando e eu continuava completamente “lost”. Isso foi enchendo o meu saco. Eu já não era mais uma adolescente pulante que não tinha o que fazer da vida e, quando cheguei à conclusão que só a season finale ia explicar tudo mesmo, resolvi largar de mão.

Claro que eu não consegui largar de mão, mas pelo menos não precisava assistir os episódios assim que saiam, nem ficava falando disso com os outros. Apenas usei meu tempo pra outras coisas enquanto esperava e isso foi me distanciando daquela revolta do “nada se explica” e me deixando apenas a curiosidade de como os produtores iriam resolver aquela bagunça. Ao mesmo tempo, me sentia tranqüila ao me dar conta que ninguém ia resolver coisa nenhuma.

Se eu fosse um daqueles fãs fanáticos, talvez estivesse bem mais chateada pelo fato de que o Walter ter poderes não foi bem explicado, tampouco aquelas viagens no tempo ou mesmo toda a galera que aparecia do nada só pra nos confundir. Observei, aos poucos, aquilo que Lost passou em seu final: há coisa que a gente não entende, tem que se conformar em não entender e que, um dia, talvez se aproxime mais do esclarecimento.

Isso, possivelmente, choque alguns de vocês que me conhecem, pois sabem que no que se refere à crenças, eu sou uma cética insuportável, muitas vezes arrogante e um pouco incoerente. Isso porque o parágrafo anterior soou meio religioso. Essa não é minha idéia aqui. Não é o mesmo ter uma fé/acreditar em algo que não se explica e se conformar que há coisas que nossas mentes imaturas são incapazes de compreender. Eu só me conformo. Isso dá uma certa paz de espírito, vocês deveriam tentar. Com isso, não estou pregando a idéia de que não devemos tentar entender as coisas; pelo contrário, me considero bastante científica e quero saber e explicar o que acontece nesse mundo confuso, mas há uma diferença entre persistência e teimosia.

Mas deixando à filosofia de lado, vamos ao episódio e os motivos que me fazem classificar a season finale como “fabulosa”.

Para que vocês possam compartilhar, por alguns instantes, da mesma visão que eu, vamos deixar de lado todas as questões mal explicadas. Esqueçam a falta de contexto, as pessoas aleatórias que surgiam aqui e ali e todo o resto que deixou a desejar. Parem de perguntar o que é a ilha, pra que serve luz brilhante e como é que aconteceram todas aquelas viagens no tempo. Gente, tanto faz! Como diria o pai do Jack, “tudo que aconteceu foi real”. Conformem-se! Ou vão lá tirar satisfações com os produtores... O que é mais econômico?

Agora, vamos pensar em o que essa história representa. A vida é composta de muitas coisas inexplicáveis que não conseguimos entender. Os conflitos que vivemos nesse cenário é que nos ajudam a crescer e as pessoas com quem convivemos são o que de melhor pode nos acontecer. Há alguns que dizem que Lost foi a jornada de Jack. Eu concordo, considerando que tudo começa com ele abrindo os olhos e termina com ele os fechando. A ilha foi apenas um cenário interessante em que ele foi capaz de resolver seus conflitos e mostrar realmente a que veio. Tudo que ele tinha de mais certo era a idéia de tarefa, daquilo que ele estava ali pra fazer: proteger a ilha. E, de novo, a ilha é somente o objeto, podia ser proteger o urso polar que não faria diferença, o ponto é que ele teve que crescer interna e externamente pra poder fazer aquilo que tinha que fazer. Isso é o que realmente importa.

A sexta temporada, pra mim, foi fantástica, especialmente agora que eu entendo tudo. As teorias de que a Juliet explodiu a jughead e criou uma realidade alternativa, embora interessante, não compensava todos os anos que eu esperei pelo final. Teve muito mais significado pra mim ver cada um deles se reencontrar após terem morrido; me reencontrar com cada um deles. Pode parecer clichê pra quem já viu Sexto Sentido, Os outros ou Passageiros, mas embora não tenha sido grande a surpresa, me satisfez imensamente.

Afinal, se nós assumirmos, por um momento, que existe mais nesse universo do que podemos alcançar por enquanto, não seria bom se pudéssemos nos lembrar? Lembrar daquela vida, dos momentos que foram importantes? Descobrir, finalmente, o que foi realmente importante, aquilo que definiu o saldo da nossa existência. Não seria bom saber que teve alguém ao seu lado quando você partiu? Grande coisa o cachorro voltar do nada, o que importa é que ele estava lá quando Jack precisava dele.

Imaginem o prazer de rever todos aqueles que vocês amam. Ter alguém que toque na nossa mão para que acessemos uma vida em que éramos mais do que meros desconhecidos. Não seria ótimo reencontrar todos aqueles que foram importantes pra nós? Ter alguém que pergunte “você entende, agora?", como Desmond fez para Kate? Ou alguém que nos diga “vou esperar você estar pronto", como Kate disse a Jack? Ou mesmo alguém que lhe respeite quando decide que não pode ir agora, pois tem que resolver algumas outras coisas, como Hurley fez a Ben? Não seria bom ouvir de um amigo “você foi um ótimo número 2?” Não seria bom rever um grande amor? Ou vocês não sentem saudades?

Eu sei que soa como romantismo e que eu estou ignorando todas as coisas que a série não explicou. Tem muita gente chateada porque não recebeu todas as respostas, mas, sejamos honestos, há como ter todas as respostas? No fim, é isso que importa? Porque se aquelas pessoas que viveram tudo aquilo e se foram, não estavam chateadas, porque deveríamos ficar? O cenário foi apenas o cenário; ao que me pareceu, tudo que importava é que eles estavam juntos de novo.

E não é a isso, afinal, que deveríamos dar valor?

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