terça-feira, 15 de junho de 2010

Remember Me

ATENÇÃO! SPOILERS EM TODO O POST!

Acabo de assistir o filme estrelado pelo Cedric/Edward - ou melhor, Robert Pattinson - e confesso que fiquei impressionada. Há algum tempo instensionava assistí-lo, mas quando fui baixar da internet, li, sem querer, um comentário infeliz que contava o final: ele morre! Logo, não vi mais razão pra assistir. Era um romance que nem prometia grande coisa e eu já sabia que o guri principal morria. Não me interessava mais nada.

Mas aí, a auxiliar de pesquisa do grupo em que eu trabalho na universidade comentou que valia muuito a pena assistir. Como já aprendi a valorizar as colocações dela, fui atrás do longa. O que vi foi brilhante.

Na verdade, foi a única estratégia cinematográfica que conseguiu me comover realmente com o tema que ela aborda no final - e olha que eu já assisti várias tentativas sem sucesso! Agora, me resta a dúvida: eu estou sendo mais facilmente manipulada ou o filme é competente mesmo? Gostaria que assistissem e me dissessem.

Pra quem só isso já basta, pare de ler aqui e vá ver o filme. Para os que gostariam de entender mais do meu ponto de vista e da história em si, prossigam.

A história começa interessantezinha. A menina de 11 anos que vê a mãe ser assassinada e o guri cujo irmão cometeu suicídio crescem e se encontram por uma armação que, a princípio, foi bolada pelo amigo do guri por vingança de uma encrenca em que se meteram com a polícia - o pai dela era oficial. Como em qualquer romance, o tiro sai pela culatra e ele se apaixona por ela. Ela descobre, eles brigam, ela perdoa ele e tudo fica bem.

E o filme não acaba.

Aí é que começa a ficar estranho. Está quase no fim, a história é boa, porém morna e o expectador fica na dúvida se deve se irritar por perder o tempo ou se preparar pra frustração. Eu, especialmente; afinal, como é que, depois de tudo, o guri ia morrer??? Por alguns instantes, suspeitei de suicídio, já que no filme, ele comemora o aniversário de 22 anos, a mesma idade em que o irmão se matou. Mas isso não acontece.

De plano de fundo temos uma família que parece ter se desestruturado com a morte do mais velho, embora ainda tente se erguer. Temos o Tyler (Edward) morando com um amigo, o pai dele (007), um advogado frio e a mãe tentando seguir a vida com a menina caçula e um novo companheiro. A menina mais nova é uma temática à parte que trás a tona a questão do bullying, violência tão discutida na atualidade. Podemos observar a dinâmica da família para lidar com o problema da maneira mais saudável que eu já vi, apesar de toda a doença que beirava o ambiente de forma quase discreta.

Tyler cita a frase de Gandhi em dois momentos do filme: no início e no final e ela fica confusa no contexto até o último momento. "Tudo que você fizer na vida será insignificante. Mas é muito importante que você o faça... porque ninguém mais o fará". O filme é brilhante porque o tempo todo você acha que essas são tentativas frustradas de mostrar algo que não vai importar e, no fim, foi tudo perda de tempo. A última (ou penúltima, sei lá) cena salva tudo.

O que me encanta no cinema é justamente isso. Uma imagem vale mais que mil palavras, como diria o autor. Incrível como em um momento nada faz sentido e, em outro, tudo se encaixa.

O filme se desenvolve até o momento em que Tayler consegue reunir a família; a irmã se sente amada e protegida, a mãe, amparada e o pai finalmente exerce sua função e ele e Tyler finalmente entram em um processo de reconciliação. E aí, quando a irmã de Tyler vê a data que a professora escreve no quadro negro da escola, tudo faz sentido: September, 11, 2001. É interessante porque eu estava mesmo me perguntando porque um filme lançado em 2009/2010 teria seu cenário na época em que American Pie passava no cinema (aparece o Tyler assistindo o filme).

E aí, quando você está prestes a começar a xingar porque tudo foi uma estratégia para a comoção geral, aparece o Tyler esperando o pai no escritório dele. Ele olha pela janela e a câmera se afasta para filmar o prédio em que ele está. Quem pensou em World Trade Center acertou na mosca.

E aí eu entendi. Somente mostrando uma vida qualquer, de uma pessoa qualquer e a importância dessa pessoa no universo (o grande mesmo e o em que ela vive), sem que saibamos que aquela tragédia vai ocorrer é que podemos, realmente, entender a questão. A sensação de invasão e ataque sentida pelos americanos nada tem a ver com o problema e sim a perda que ela respresentou para os envolvidos. Dane-se a política, a cultura, a guerra. Alguém que estava fazendo alguma coisa - insignificante e importante - morreu ali. Será que foi acidente de percurso ou ele havia terminado sua tarefa? Eu não tenho como saber por enquanto. Só sei que este foi o filme mais inteligente que assisti sobre a tragédia justamente porque ele não foi sobre a tragédia.

Foi sobre alguém.

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